terça-feira, 27 de outubro de 2009

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Texto de apresentação da exposição "Compartilhar, Transpor, Bricolar, Domesticar, Prolongar : Ações Poéticas na Arte Contemporânea"

Em 21 de outubro de 2009, às 19 horas, será inaugurada na Galeria de Arte do Instituto de Artes e Design da UFPel (Alberto Rosa, 62) a exposição


"Compartilhar, Transpor, Bricolar, Domesticar, Prolongar : Ações Poéticas na Arte Contemporânea",

com a participação dos artistas Adriane Hernandez, Alice Monsell, Chico Machado, Duda Gonçalves e Ricardo Mello.

Trata-se de uma exposição coletiva com os mais novos integrantes do corpo docente do curso de Artes Visuais da UFPel. Estes artistas/professores têm em comum, o fato de que todos realizaram ou realizam doutorado em Poéticas Visuais na UFRGS. Além disso, a exposição dá uma amostragem da multiplicidade, da diversidade e da singularidade da produção da arte contemporânea, que comporta de modo não excludente as mais variadas formas de manifestação artística. São trabalhos que se dão a ver em forma de pintura, objetos cotidianos ou não, fotografia e diversas ações propositivas.

Cada trabalho, que faz parte dessa coletiva, traz uma palavra, um verbo, como potência e latência de um pensar estritamente ligado às ações do fazer, como uma palavra-chave, que possibilita a passagem de um universo a outro: do universo do fazer ao universo do discurso.

Poéticas Visuais é uma modalidade de pesquisa em arte, bastante recente no Brasil, com especificidades próprias, condizentes com a atividade do fazer artístico. As bases da pesquisa em Poéticas Visuais se encontram na elaboração teórica do escritor e poeta francês Paul Valéry que, quando convidado para ministrar a cadeira de poética no Collège de France, em 1937, propôs que o escritor pudesse pesquisar sobre o seu processo de criação e, para defender essa idéia, ele vai até as origens gregas da palavra poética e, a partir do radical poïein, mostra como esse termo significava muito simplesmente fazer. Para Valéry, então, nada pode ser mais contraditório que a ação de fazer uma obra em relação à produção de valor que se aplica sobre essa obra depois de pronta.

É do lado de quem faz a obra, que o pesquisador em Poéticas Visuais se encontra, e o trabalho de construção teórica está intimamente ligado à sua produção artística, ao seu fazer. A poética é, então, o terreno do cruzamento entre os conceitos e as práticas do fazer, da instauração e da criação da obra. Neste sentido, se contrapõe à estética que é o território da fruição e da apreciação crítica e teórica da obra já feita.

Os artistas e as obras

Eduarda Duda Gonçalves

Na presente exposição mostro três imagens fotográficas captadas durante uma intervenção realizada no XVIII EREA  2009 (Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura). As fotografias revelam por meio de um pequeno orifício as vistas do Canal Santa Bárbara, local do evento, observadas numa tarde de sábado. O buraco de um cartão para mirar tornou possível aproximar o visível e compartilhar este visível com outros, ao mesmo tempo, reinventar a paisagem observada. O cartão para mirar intitulado CARTÃO DE VISTA MIRANTE, confeccionado para observâncias a olho nu, será partilhado durante o período da exposição, para ver a vista. Este trabalho faz parte da pesquisa de doutoramento Cartogravistas: proposições para compartilhamentos desenvolvido no Programa de PósGraduação do Instituto de Arte da UFRGS, sob orientação do prof. Dr. Hélio Fervenza.

Adriane Hernandez

O trabalho que apresento denomina-se Impregnações azuis: para salientar coisas mínimas e foi realizado após a conclusão de meu doutorado em Poéticas Visuais na UFRGS. Ele traz na ação de prolongar a fonte do impacto visual de suas formas. Um tríptico fotográfico formula uma superfície que se abisma a partir de pontos azuis que começam em uma pequena pedra branca, continuando pelas mãos que seguram a pedra, depois pelo fundo da cena, atravessam a imagem até a moldura e da moldura saltam para a parede. A imagem provoca de súbito uma vertigem, uma confusão visual. Os pontos azuis além de prolongarem a imagem para o lado externo dela, também salientam tudo aquilo para o qual não costumamos prestar atenção: pedra, mão, moldura, parede. A exceção da pedra, todos os elementos são instrumentos indicadores de visibilidades: a mão mostra algo, a moldura salienta algo, a parede sustenta algo.

Chico Machado

Indiqueitors é o título do trabalho que ofereço para o público nesta exposição.


Realizado no período do meu mestrado em Poéticas visuais, ele é um aparelho cinético movido à manivela que pode ser manipulado, gerando sons e movimentos visuais a partir desta manipulação lúdica. Relacionado ao universo da arte cinética, ele foi construído por mim a partir da ação de bricolar. Bricolage é um termo cunhado por Claude Léy-Strauss para referir-se a um modo de executar um trabalho “usando meios e expedientes que denunciam a ausência de um plano preconcebido”. Assim, o trabalho é constituído mais a partir de um trajeto do que de um projeto, lançando mão de diversos materiais e componentes coletados ao longo do tempo e que estão disponíveis no meu atelier no momento de realização da obra. O modo cumulativo e improvisado da realização do trabalho, seus recursos técnicos e seu funcionamento mecânico remetem a um universo que se pode denominar de Low Tech (baixa tecnologia), que propõe uma discussão sobre a presença da tecnologia digital High Tech contemporânea.

Alice Monsell

Visitei as casas de cinco pessoas em Pelotas para conhecer seus gestos domésticos, registrá-los com uma máquina digital e dialogar sobre o modo que estes gestos se incorporam e compõem sua vida diária. Apresento aqui uma mesa, papéis, materiais de desenho e uma pergunta: “O que você faz em sua casa?”


A palavra fazer em Inglês se traduz em duas palavras: fazer no sentido de produzir algo (“to make”) e fazer no sentido de “fazer uma coisa ou atividade” (“to do” something). Para Allan Kaprow, experimentar na arte pode ser “fazer” no segundo sentido, pois a arte para ele pode ser algo que faz, mesmo banal ou ordinário, para experimentar a vida. Não é para re-produzir a rotina, mas para produzir a diferença. Re-fazer novamente é re-conhecer.


Este é o sentido de domesticar. Como transforma-mos e construímos o espaço em nossa casa? Como os gestos re- desenham nossa vida cotidiana? Pergunto como convite para sentar e olhar estas imagens, falar ou escrever sobre seus gestos e até desenhá-los.

Ricardo Mello

Meu processo de trabalho envolve uma série de transposições que levam a imagem cinematográfica (que fotografo no vídeo) para o plano pictórico através de uma técnica de pintura que elaborei a partir de meu conhecimento e noções do movimento conhecido como Hiper-Realismo. Pinto da maneira mais fiel e lenta possível, pixel a pixel, a partir de uma projeção sobre a tela.


Porém, apesar de o resultado final da pintura carregar características visuais fotográficas residuais, ao mesmo tempo, afasta-se da ilusão fotográfica pelo esmaecimento das cores e pelo esvaecimento da imagem que foi usada como re-ferência inicial (uma vez que o slide fotográfico que eu uso vai derretendo devido ao longo tempo de trabalho).


Tal somatório de etapas processuais resulta em acúmulo e adensamento das interferências do vídeo, da fotografia e da mão do pintor sobre a imagem inicialmente apropriada.

A Galeria do IAD é notícia...


A versão eletrônica da matéria está aqui.