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terça-feira, 20 de outubro de 2009
Texto de apresentação da exposição "Compartilhar, Transpor, Bricolar, Domesticar, Prolongar : Ações Poéticas na Arte Contemporânea"
Em 21 de outubro de 2009, às 19 horas, será inaugurada na Galeria de Arte do Instituto de Artes e Design da UFPel (Alberto Rosa, 62) a exposição
"Compartilhar, Transpor, Bricolar, Domesticar, Prolongar : Ações Poéticas na Arte Contemporânea",
com a participação dos artistas Adriane Hernandez, Alice Monsell, Chico Machado, Duda Gonçalves e Ricardo Mello.
Trata-se de uma exposição coletiva com os mais novos integrantes do corpo docente do curso de Artes Visuais da UFPel. Estes artistas/professores têm em comum, o fato de que todos realizaram ou realizam doutorado em Poéticas Visuais na UFRGS. Além disso, a exposição dá uma amostragem da multiplicidade, da diversidade e da singularidade da produção da arte contemporânea, que comporta de modo não excludente as mais variadas formas de manifestação artística. São trabalhos que se dão a ver em forma de pintura, objetos cotidianos ou não, fotografia e diversas ações propositivas.
Cada trabalho, que faz parte dessa coletiva, traz uma palavra, um verbo, como potência e latência de um pensar estritamente ligado às ações do fazer, como uma palavra-chave, que possibilita a passagem de um universo a outro: do universo do fazer ao universo do discurso.
Poéticas Visuais é uma modalidade de pesquisa em arte, bastante recente no Brasil, com especificidades próprias, condizentes com a atividade do fazer artístico. As bases da pesquisa em Poéticas Visuais se encontram na elaboração teórica do escritor e poeta francês Paul Valéry que, quando convidado para ministrar a cadeira de poética no Collège de France, em 1937, propôs que o escritor pudesse pesquisar sobre o seu processo de criação e, para defender essa idéia, ele vai até as origens gregas da palavra poética e, a partir do radical poïein, mostra como esse termo significava muito simplesmente fazer. Para Valéry, então, nada pode ser mais contraditório que a ação de fazer uma obra em relação à produção de valor que se aplica sobre essa obra depois de pronta.
É do lado de quem faz a obra, que o pesquisador em Poéticas Visuais se encontra, e o trabalho de construção teórica está intimamente ligado à sua produção artística, ao seu fazer. A poética é, então, o terreno do cruzamento entre os conceitos e as práticas do fazer, da instauração e da criação da obra. Neste sentido, se contrapõe à estética que é o território da fruição e da apreciação crítica e teórica da obra já feita.
Os artistas e as obras
Eduarda Duda Gonçalves
Na presente exposição mostro três imagens fotográficas captadas durante uma intervenção realizada no XVIII EREA 2009 (Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura). As fotografias revelam por meio de um pequeno orifício as vistas do Canal Santa Bárbara, local do evento, observadas numa tarde de sábado. O buraco de um cartão para mirar tornou possível aproximar o visível e compartilhar este visível com outros, ao mesmo tempo, reinventar a paisagem observada. O cartão para mirar intitulado CARTÃO DE VISTA MIRANTE, confeccionado para observâncias a olho nu, será partilhado durante o período da exposição, para ver a vista. Este trabalho faz parte da pesquisa de doutoramento Cartogravistas: proposições para compartilhamentos desenvolvido no Programa de PósGraduação do Instituto de Arte da UFRGS, sob orientação do prof. Dr. Hélio Fervenza.
Adriane Hernandez
O trabalho que apresento denomina-se Impregnações azuis: para salientar coisas mínimas e foi realizado após a conclusão de meu doutorado em Poéticas Visuais na UFRGS. Ele traz na ação de prolongar a fonte do impacto visual de suas formas. Um tríptico fotográfico formula uma superfície que se abisma a partir de pontos azuis que começam em uma pequena pedra branca, continuando pelas mãos que seguram a pedra, depois pelo fundo da cena, atravessam a imagem até a moldura e da moldura saltam para a parede. A imagem provoca de súbito uma vertigem, uma confusão visual. Os pontos azuis além de prolongarem a imagem para o lado externo dela, também salientam tudo aquilo para o qual não costumamos prestar atenção: pedra, mão, moldura, parede. A exceção da pedra, todos os elementos são instrumentos indicadores de visibilidades: a mão mostra algo, a moldura salienta algo, a parede sustenta algo.
Chico Machado
Indiqueitors é o título do trabalho que ofereço para o público nesta exposição.
Realizado no período do meu mestrado em Poéticas visuais, ele é um aparelho cinético movido à manivela que pode ser manipulado, gerando sons e movimentos visuais a partir desta manipulação lúdica. Relacionado ao universo da arte cinética, ele foi construído por mim a partir da ação de bricolar. Bricolage é um termo cunhado por Claude Léy-Strauss para referir-se a um modo de executar um trabalho “usando meios e expedientes que denunciam a ausência de um plano preconcebido”. Assim, o trabalho é constituído mais a partir de um trajeto do que de um projeto, lançando mão de diversos materiais e componentes coletados ao longo do tempo e que estão disponíveis no meu atelier no momento de realização da obra. O modo cumulativo e improvisado da realização do trabalho, seus recursos técnicos e seu funcionamento mecânico remetem a um universo que se pode denominar de Low Tech (baixa tecnologia), que propõe uma discussão sobre a presença da tecnologia digital High Tech contemporânea.
Alice Monsell
Visitei as casas de cinco pessoas em Pelotas para conhecer seus gestos domésticos, registrá-los com uma máquina digital e dialogar sobre o modo que estes gestos se incorporam e compõem sua vida diária. Apresento aqui uma mesa, papéis, materiais de desenho e uma pergunta: “O que você faz em sua casa?”
A palavra fazer em Inglês se traduz em duas palavras: fazer no sentido de produzir algo (“to make”) e fazer no sentido de “fazer uma coisa ou atividade” (“to do” something). Para Allan Kaprow, experimentar na arte pode ser “fazer” no segundo sentido, pois a arte para ele pode ser algo que faz, mesmo banal ou ordinário, para experimentar a vida. Não é para re-produzir a rotina, mas para produzir a diferença. Re-fazer novamente é re-conhecer.
Este é o sentido de domesticar. Como transforma-mos e construímos o espaço em nossa casa? Como os gestos re- desenham nossa vida cotidiana? Pergunto como convite para sentar e olhar estas imagens, falar ou escrever sobre seus gestos e até desenhá-los.
Ricardo Mello
Meu processo de trabalho envolve uma série de transposições que levam a imagem cinematográfica (que fotografo no vídeo) para o plano pictórico através de uma técnica de pintura que elaborei a partir de meu conhecimento e noções do movimento conhecido como Hiper-Realismo. Pinto da maneira mais fiel e lenta possível, pixel a pixel, a partir de uma projeção sobre a tela.
Porém, apesar de o resultado final da pintura carregar características visuais fotográficas residuais, ao mesmo tempo, afasta-se da ilusão fotográfica pelo esmaecimento das cores e pelo esvaecimento da imagem que foi usada como re-ferência inicial (uma vez que o slide fotográfico que eu uso vai derretendo devido ao longo tempo de trabalho).
Tal somatório de etapas processuais resulta em acúmulo e adensamento das interferências do vídeo, da fotografia e da mão do pintor sobre a imagem inicialmente apropriada.
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quinta-feira, 15 de outubro de 2009
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